domingo, 22 de setembro de 2013



CLIMA TENSO: Juiz Federal defere liminar de reintegração de posse e ruralistas realizam ato contra FUNAI e Povo Xakriabá

Apesar da insistência para que fosse realizada audiência de justificação e das alegações do MPF e da FUNAI que levaram para os autos elementos comprobatórios de que a Fazenda São Judas encontra-se inserida no território Tradicional do Povo Xakriabá cujo processo de demarcação já se encontra bastante avançado, o Juiz Federal da 2ª Vara da Subseção Judiciária de Montes Claros, Dr. Alexandre Ferreira Infante Vieira deferiu novamente a liminar em favor dos invasores brancos e pela desocupação da área retomada.

Ontem(21) a associação dos fazendeiros realizarão um manifesto na cidade de Itacarambi contra a demarcação das áreas reivindicadas pelo povo Xakriabá. Esta ação está sendo articulada com a participação de políticos e tememos pelo desfecho. Penso que é preciso agirmos com urgência a fim de preservarmos a integridade física dos índios Xakriabá.

O clima está tenso, muito tenso. Da forma que os índios Xakriabá estão sendo expostos no município de Itacarambi e região, penso que todos serão caçados como se fossem animais. Grande parte da população de Itacarambi está se armando, são grandes os riscos e precisamos com urgência mobilizar os órgãos competentes, parceiros e aliados a fim de evitarmos uma tragédia.


Cimi Leste II

sábado, 21 de setembro de 2013

EU TAMBÉM SOU XAKRIABÁ!


Um pouco da história do Povo Xakriabá


Como todos os povos indígenas do Brasil sua história passa a ser contada a partir da origem de seu nome. E com o povo Xakriabá não é diferente.  É definido pelo Handbook of Soth American Indians [1] como filiados ao trônco lingüístico jê, e subdivisão Akwên originários da parte meridional das terras entre o Rio São Francisco e o rio Tocantins.

De acordo DarcY Ribeiro e Benedito Presia, o povo Xakriabá está relacionado aos grupos indígenas, Xavante e ao Xerente, ocupando a bacia do Tocantins, desde o sul de Goiás até o Maranhão, estendendo-se do Rio São Francisco ao Araguaia.

O Povo Xakriabá habita a região do Médio São Francisco no município de São João das Missões, norte de Minas Gerais, desde meados do século VXII, no qual encontramos registro dos primeiros contatos entre colonizadores e índios nesta região.

Relatos desTe período nos mostraM fatos em que o bandeirante paulista Matias Cardoso de Almeida, um dos mais famosos caudilhos da época, juntamente com seu filho Januário Cardoso, seu primo Manoel Francisco de Toledo, e o seu cunhado, o paulista Gonçalves Figueira, numa expedição legal, composta de 57 homens conforme vinha enunciada na patente de Capitão –Mor, concedia a Matias Cardoso de Almeida a conquista de nações gentílicas e bravas, “praia” de indígenas e quilombos, tendo cumprido as determinações “mestre-de-Campo” e governador absoluto da guerra dos “bárbaros” passou a dedicar-se a debelar aldeia indígenas, ao longo do rio São Francisco.

Já nomeado “administrador das Aldeias”, foi informado por um de seus descendentes, que “encontraram um grande número de indígena na embocadura de um tributário do rio São Francisco”. Montaram acampamento na ilha do Capão e ficaram alguns dias a espreitar, de onde avistaram um grupo de índios na foz do rio Itacarambi.. Saíram em perseguição aos nativos, e no dia 24 de junho de 1.695, surpreenderam a tribo dos Shariabás (...), aldeados as margens do Itacarambi, a uma distancia de duas léguas e meia da desembocadura do rio. Fizeram-lhe a principio guerra e, em seguida, porém, trataram com eles e firmaram pazes [3].

Já instalado em terras indígenas Matias Cardoso de Almeida foi o propulsor dos conflitos pela disputa da terra, já que o bandeirante se intitulou dono da área que os Xakriabá ocupavam. Negros fugitivos das minas também eram acolhidos pelos índios, através de alianças para enfrentar a fúria dos colonizadores.

Com a ameaça dos Cayapó na região do Brejo do Salgado, atualmente a cidade de Januária, os Xakriabá fizeram um pacto com Januário Cardoso, filho de Matias Cardoso, contribuindo assim na luta pela expulsão dos Cayapó Meridional da região.  Em troca, ganharam uma doação de terras, que se estendia das margens do Rio Itacarambi até o Rio Peruaçú, registrado em cartório de Januária e Ouro Preto (vide anexo documento de doação).

Por um período, os Xakriabá viveram relativa tranqüilidade em suas terras, apesar da imposição religiosa e cultural. Lentamente as suas terras foram sendo ocupadas por fazendeiros, que não aceitavam a sua existência enquanto povo indígena.

Comunicado do Povo Xakriabá as autoridades e pedido de providências


Território Xakriabá, São João das Missões MG, 02 de Setembro 2013.

Nós, Caciques, lideranças e povo Xakriabá viemos através deste comunicar as nossas reivindicações no que se refere ao processo de demarcação das áreas reivindicadas pelo nosso povo.

Neste domingo (01), definimos pela retomada de mais uma parcela do nosso território. A área que retomamos é a Fazenda São Judas Tadeu,  composta por 6.000 (seis mil hectares) no Município de Itacarambí, Norte de Minas Gerais.

A Fundação Nacional do Índio – FUNAI iniciou os estudos de identificação dessas áreas como parte integrante do nosso Território no ano de 2007. Desde então, o acirramento dos conflitos vem aumentando constantemente na região. Fazendeiros têm feito constantes ameaças as nossas lideranças indígenas.

O estudo antropológico de identificação realizado pela FUNAI, juntamente com o levantamento fundiário das áreas reivindicadas já foi concluído, no entanto os procedimentos de publicação e demarcação ainda não foram efetuados.

Vivemos em constante tensão, mas infelizmente não dispomos de alternativas a não ser lutar para garantir que os nossos direitos sejam efetivados. A morosidade dos órgãos competentes em resolver os nossos problemas territorial tem nos colocado constantemente a mercê da violência e fúria de fazendeiros e do próprio Estado Brasileiro.

Não queremos violência, o que solicitamos é uma intervenção do Estado de Minas Gerais e Governo Federal no sentido de reparar os danos históricos causados ao nosso povo, agindo em favor dos nossos direitos e cumprindo o seu papel de acordo com o que está estabelecido na constituição Federal artigo 231 e 232 e acordos internacionais, a exemplo da convenção 169 a qual o Brasil é signatário.

Diante do exposto, informamos que estamos correndo riscos de vida e pedimos as seguintes providencias.

Presidente da Fundação Nacional do Índio - FUNAI
Demarcação nas áreas reivindicadas pelo nosso povo
Audiência com a presidência da Fundação Nacional do Índio

Audiência com a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
Audiência com o Ministério Público Federal de Montes Claros
Audiência com a sexta Camara Federal
Audiência com a Secretaria Especial de Saúde Indígena em Brasília DF


Junto a Prefeitura Municipal de Itacarambí e São João das Missões MG
Atendimento de saúde as famílias na área retomada
Fornecimento de água potável para as famílias na área de retomada

Junto a Coordenação Regional FUNAI Governador Valadares
Medidas de segurança ao povo xakriabá e famílias residentes nas áreas de retomadas

Fornecimento de alimentação as famílias nas áreas de retomada